20 outubro 2010

Faleceu Joaquim Pedro Monteiro

Faleceu, hoje, o Joaquim Pedro Monteiro, sócio da Associação de Lanceiros, que comandou os "Grifos" brancos da CPM 1443 (Angola 1965/67) e colaborador destes Cadernos.
Em homenagem ao seu espírito combativo e empenhado transcrevemos um dos artigos por nós publicados:
«Quiz o acaso e o amor da terra que em 1973 me transferisse para Angola para proceder à implantação do formidável e popular PÃO DE AÇUCAR, o animado JUMBO de Luanda. Um projecto autónomo luso-angolano, Africados - Supermercados, S.A. que acabava de instalar numa área de 20.000 m2 o maior Hipermercado do Continente Africano, da América Latina e da Peninsula Ibérica! Uma autêntica revolução na distribuição da maioria dos bens de consumo, uma entusiástica e desejada democratização do consumo, o ponto de encontro diário de toda a população, da terra batida ao asfalto.
Onde mais de 350 pessoas, pretos, brancos e mulatos, por esta ordem de grandeza, pareciam concretizar o destino imaginado, exemplo máximo de genuina integração e miscenigação, único em África, concretizando a tal Angola da Paz para que sacrificaramos anos de juventude e nos tinhamos empenhado e batido. Generosa e em pogressão natural e consciente com todos e cada vez mais verdadeiramente para todos, numa zona paradisiaca de um continente económicamente de facto ainda por entrar no século XVIII, com certas aparências e realidades já do século XX.
Toda a nossa numerosa estrutura integrava pela sua formação escolar, académica e capacidades de trabalho reais "desconhecidas" dum povo metropolitano intoxicado, pretos, brañcos e mulatos, i.e., quadros superiores,médicos e assistentes sociais (creche), gerentes, chefes de secção, repositores, operadoras de caixa, etc irmanados num trabalho dinâmico e gratificante.
Um Novo Brasil mais perfeito e africano ia formar-se e afinar-se, disso não tinhamos dúvidas, antes do final da década de 70. Com vontade comprovada dos seus habitantes e residentes, sem resistências de maior e a alteração política adequada.
Graças a todo um desenvolvimento económicico e social sustentado, abrangente e saudável, sem comparação, por uma comunidade descomplexada de racismos marginais e decadentes em estruturação acelerada, segura da sua força, riqueza e maturidade. A guerra de construção feita por portuguese e angolanos daria finalmente os seus frutos. Muito cobiçados por poderes e interesses inconfessáveis por uns, incompreendidos por outros, alguns ignorantes e que se esquivaram a pôr os pés com o povo e com os povos em África, Preferiam o perfume, as cores e as comodidades europeias.
Não fora, entretanto em Portugal a neutralizante, bem sucedida, desesperada e devastadora investida comunista a todos os níveis sem falhar; fabril, sindical, liceal, universitário, intelectual, eclesiástico, burguês pseudo-intelectual, jornalístico e, dado essencial e consequente, militar. Os portugueses de vidas normais, atónitos mas indiferentes com a nação progredindo ainda que encurralada e desgastada, inabilidades políticas e uns inocentes úteis de pacotilha modernassos à mistura, fizeram o resto.
Portugal, tamanha a desproporção de forças teria de cair e Angola regredir e sangrar. O nosso Adeus à Africa saldava-se pelo regresso de 1 milhão de sobreviventes ultramados, de um rasto de miséria e outro milhão de mortos ou estropiados que a indigna e egoistica frieza humana e politica rápidamente digeriram. Sem reacção o Silêncio tombou na História.
Após a francesa de há dois séculos, recuperável, a invasão soviética vencia sem exércitos próprios, mas com uma arma ideológica invisivel, incontrolável e diabólica, deixando estigmas que se verifica serem irrecuperáveis.
Descaracterizando e enfraquecendo o mundo de quem deu e daria novos mundos ao mundo.Triste, Injusto e Desonroso. Para azar de África e também de um certo Ocidente ganancioso.
Para quem viveu, lutou, trabalhou, sentiu, viu e sofreu tuido isto em Angola, FOI ASSIM!»
Joaquim Pedro Monteiro in Cadernos Militares Lanceiro n.º 1 - 2009